Como transformar bandido em herói





"Não se chega a um nível de criminalidade geral em que meio milhão de veículos são roubados anualmente e o número de homicídios bate nos 60 mil anuais, sem que os valores capazes de inspirar condutas retas tenham passado pelo moedor do relativismo moral. É a infeliz vingança do Adão pós-moderno. Ele expulsa Deus do seu peculiar "paraíso humanista", cuja primeira perda é a do fundamento conceitual da própria dignidade. Eis a gênese da displicência moral que se expande sem poupar a parte mais saudável da sociedade brasileira. "
Percival Puggina




A história da criminologia moderna é bem conhecida. Tem seu nascedouro com as percepções positivas de Cesare Lombroso e Enrico Ferri até constituir-se no interior de uma “sociologia do crime”, que ao longo do século XX recebera inúmeras influências: da psicanálise à “teoria do desvio”; da associação diferencial à “teoria da anomia” passando pela “subcultura delinquente”; enfim.

Com o esgotamento da linguagem objetiva do positivismo lombrosiano, com seu fatalismo biológico (fenotípico), e do tecnicismo de Ferri, com seus mapas de interação geográfico-social sobre o criminoso, a criminologia no séc. XXI torna-se franja da filosofia política frankfurtiana (sobretudo marcusiana: um dividendo do clássico “Eros e Civilização”). Explico melhor: torna-se, esta criminologia sociologizada, vetor de ação político-revolucionária.

Ou seja, passa a explicar (e politizar) o crime por meio da crítica ao “sistema social” — para usar uma expressão de Luhman —, sobretudo, porque a crítica desloca do agente livre e responsável moralmente pelo ato criminoso o ônus punitivo de sua ação; agora diluído sistematicamente na “sociedade excludente”, esta: a legítima produtora de criminalidade, com sua série de exclusões e violências ao “criminoso” — doravante, vítima social, no limite: herói. Este é o caso de bandidos romanceados como Che Guevara, Carlos Lamarca, Marighela, Fidel Castro, Chávez, Lula (atendendo a pedidos), Maduro et ali.  

Com isso, temos a “bandidolatria” presente na classe intelectual primeiro, que é o sentido da glamourização do criminoso no aparato mídia-cultural depois, pois mero espelhamento vulgar das ideias supostamente científicas desta criminologia crítica. Todo esse desdobramento tem uma “contra-história” à história oficial assim como inúmeras notas de rodapé de sorte que não caberia aqui dar explicações detalhadas desse processo de inversão da relação policial/bandido.

Resta, contudo, combater tais sofismas — para dizer o mínimo — com pensamento sério e com base real: Theodore Dalrymple, é o nome. Ainda pouco conhecido no Brasil seus ensaios vêm ganhando eco dia a dia. Recomendo com entusiasmo toda sua obra, publicada em português pela Editora É Realizações. No vídeo, que é trecho de uma aula que ministrei dias atrás, exponho em linhas muito gerais esse cenário.


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Gabriel Leal  

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