QUEM SÃO OS HERÓIS?



Digito este texto no dia 28 de janeiro, numa segunda-feira gélida (25° em Cuiabá). E constato que desde sábado é o mesmo Pedro Aihara, tenente bombeiro, que insiste em se reproduzir dia a dia na minha TV.

Assim como ele, onipresente desde o início do caos em Brumadinho, outras centenas de pedros, josés, souzas, silvas e etc se agigantam, como seres sobrenaturais, dia e noite no resgate dos sobreviventes — talvez com um “joinha” no whatsapp de 12 em 12 horas para a família. Não é para menos, afinal são militares. Sobretudo sabiam os riscos que correriam ao cruzar os umbrais das academias, onde aprenderam, como tem-se visto com emoção, técnicas de maneabilidade em vários processos e diversos terrenos, o conhecido “rastejo” — que a Globonews, na sua ignorância insiste em nomear como qualquer outra coisa. Por isso, não é preciso exaltar nada que o salário dessa gente não retribua de antemão, não é?

Ainda no dia do crime, uma major piloto deixou o Brasil inteiro fazendo figa e com o coração na boca, com aquele esqui do helicóptero a poucos centímetros do mar de lama e gente sendo içada como se ressuscitada fosse, tudo no fio da navalha, salvando aquelas vidas num roteiro que deixaria Bruce Willis com vergonha do seu cineminha. O nome dela é Karla Lessa (Leal), e ela disse que aquilo é “como equilibrar uma vassoura nos dedos”; Ah vá!. Sim, o que ela fez foi pura técnica além de heroísmo, esse algo a mais, que em qualquer contrato celetista, impediria não o resgate como se deu ali, mas até mesmo o voo naquela situação — com a faca na ponta do peito; sem chance pra erros ou com adicional de periculosidade.

O que vemos na TV de lá pra cá são os “gangsters da virtude” em ação com fardas acerola e corpos sujos de lama e abraços fundos de lágrima: na única alteridade que provém do Estado brasileiro, aquela dos que são pagos pra morrer, em Minas ou no Ceará, de levada ou a conta gotas.

Trata-se, a bem da caça pauloguediana todavia, da escória previdenciária contra o bom-mocismo fiscal brasileiro, nessas horas, sem nenhum argumento sensato para aumentar tempo de serviço. Ou haveria argumentos, por esses dias, contra àqueles que contribuem muito pouco e se aposentam muito cedo?

A Vale, proprietária da barragem, por meio de seu advogado, diz nessa segunda-feira neblinada em Cuiabá (decerto no Brasil todo), que “não enxerga razões determinantes de sua responsabilidade” na tragédia. Talvez a culpa seja do Aihara ou da Karla. Talvez o rombo na previdência se estendeu até a barragem de Brumadinho como um furão voraz e a culpabilidade disso tudo venha debitada em tempo de contribuição; pelo que vemos ao vivo tão pequeno, não é?

E o que vemos também, acima de tudo, com o prejuízo da saúde mental dos sobreviventes e da vida ceifada de outras dezenas (centenas?), é só a caricatura do país onde os heróis morrem apenas de overdose — porém jamais salvando vidas como os silvas-sujos-de-lama, ao custo do pagamento parcelado que estes fazem do próprio suicídio, profissionalmente é claro, com o pulmão até a pleura de metal pesado e toda droga imaginável entranhada no corpo. Sem nenhuma contribuição social relevante, não é?

Talvez o Brasil mude daqui pra frente. Talvez, não.

Gabriel Leal 


Comentários

  1. Suas palavras e sentimentos são os meus.

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  2. Nossa,vc falou tudinho q merece ser dito!Me emocionei.

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    1. queria não ter dito... queria não ter visto mariana se repetir

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  3. Amor ao proximo, amor a farda e tementes a Deus. Salvar o que preciso! Foco na missão! Dai-nos força Senhor e nos guie para que possamos encontra mais sobreviventes.

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  4. Força e honra é isso que nos move por que se depender dos políticos nós estamos lascados Ivan Alves Tenente bombeiro GO VIDA POR VIDAS

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