SALVE A GLORIOSA: Diálogo entre um Capitão do Mato e o Chefe da Província de Mato Grosso em 1835
Capitão do Mato. --- Vosmicê tem no nosso serviço o fiel de seu brasão, qual seja. Preá escravo fujão decerto bem fazemos, mas o que é isso senão a bastardia de nossa vocação? Bem sabes o que tenho dito, com esse cisco no olhar, que é querença desses homens do mato andar de fronte erguida nesse mundão de água e sol.
Chefe da Província. --- Ora, capitão do mato, que fidalguia é esta a alegada? Como se o serviço fosse casta de gente honrada, patente de guarda real, veja bem que tipo aditado de alforria desejas...
Capitão do Mato. --- Alforriado somos, meu senhor.
Chefe da Província. --- Animália fera, é o que sois. Mão pesada desse Império, por entre matas e canteiros, inominado e vis.
Capitão do Mato. --- Ora, pois. Contumélia fazes a nós, senhor! Achegamos ao limite de nossa indignidade portanto. Irmanados a pretos em causa e cor muito nos quer em definitivo servir a todo arraial, sem espécie de opressor.
Chefe da Província.--- Asselada é sua preterição, digna deveras seu capitão do mato. Carta de criação assim se dará e a casaca que queres, modesta terás.
Capitão do Mato. --- Casaca nem chita nos enobrece, meu senhor. Bem menos de côngruas queremos viver senão de nosso suor, bem servir e proteger esses bens de raiz, eldorado de Mato Grosso.
Chefe da Província. --- Por certo queres aumentar a tabulagem de vosso grupo, capitão.
Capitão do Mato. --- Ponha soldo em nossos soldados, meu senhor. Valei-vos de grandes valentes cujos préstimos o mérito do salário se impõe.
Chefe da Província. --- Bem-aventurado seja essa corporação se assim o dizes ser. Até o dia 05 de setembro próximo levo carta ao parlamento.
Capitão do Mato. --- Darei aos homens do mato, venturosa boa-nova. Essas terras hão de ver nossos frutos arvorecer.
Chefe da Província. --- Assim seja.
Gabriel Leal



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