VOCÊ ACREDITA?



Pode ser difícil de acreditar vindo de um policial, mas eu nunca defendi a tortura como método de trabalho nem a mim foi ensinado. Nunca pedi propina em blitz nem fiz acerto com quem quer que seja a fim de enriquecimento ilícito. Nunca usei o critério cor ou gênero como fundada suspeita tampouco prendi criança por peraltice após ser solicitado por uma mãe preconceituosa (sem que ela tenha qualquer consciência disso: como boa parte dos preconceitos). Nunca furtei objetos ou dinheiro apreendido em ocorrência. Devolvi troco a maior quando recebi e ultrapassei a fronteira escolar do ensino médio, além de cultivar alguma leitura e espiritualidade, quando deveria estar a serviço de crimes de mando, truculência, consumo recreativo de drogas, agiotagem ou milícia: coisas que em absoluto nunca fiz. Posso garantir que essa sucessão de nunca-fiz é extensiva à maioria esmagadora dos policiais brasileiros. E, no entanto, basta que meia-dúzia deles decidam buscar seus valores democraticamente unidos a outros conservadores, como qualquer pacato cidadão faria, para que todo esse rol de preconceitos interessadamente construídos em filmes como Tropa de Elite, e só aparentemente inexistentes no dia a dia, seja disparado contra a figura do seu maior representante hoje: Jair Bolsonaro — que, até se prove o contrário, também não praticou nada disso. Daí, não é surpresa achar-se que não se faz nada num batalhão ou delegacia a não ser tortura sistemática ou planejamento anti-pobre. Pensamento que é ampliado a projetos de nação que recepcionem esse tipo de gente estigmatizada: pois torturadores, homofóbicos, racistas etc. Em suma, o pensamento de que o sujeito fardado ou portando um distintivo estando à sua frente, e independente de quem seja, tenha sempre a mesma cara: a de violador dos direitos humanos. Que, ele ou ela, acima de tudo inspire medo e deva sentir culpa por existir. E é contra essa lavagem cerebral debaixo do verniz de cordialidade que vai embora em períodos como esse, sobremaneira depois que essa maioria encontrou eco em JB, que todo esse conjunto absurdo de preconceitos irá implodir — para desespero dos que operam essas mentiras por meio do silêncio dos segregados; à custa daquele tipo de inversão, por vezes científica, entre bandidos e mocinhos. E o que muitos ainda não tiraram como lição nessas eleições é que os ataques a JB são antes dirigidos como verdade cosida na Ditadura aos profissionais da segurança, e na Idade Média, a cristãos de modo geral, então condensadas ao cabeça da gangue agora: o mesmo JB, e por isso, tamanha adesão dada no voto espontâneo, gratuito, pois em reconhecimento legítimo, apesar de tempo de TV, coligações, marqueteiros caros, telemprompter etc. Que por “regime de exceção” entendamos por fim, e socialmente, a prática marcada no rosto de cada policial em todas essas atividades ilegais que 99% nunca praticou, porém sofre com seus efeitos. Como se podendo votar em JB (ou no Batman, no Homem Aranha, na Galinha Pintadinha, no Vingador de Caverna do Dragão, na Hello Kitty, no Messi ou em qualquer um como direito) ou ser eleito, um policial precisasse de um tipo de alforria ideológica para fazê-lo com dignidade. Como se ser policial implicasse barbárie; ser religioso implicasse alienação; ser padre ou pastor implicasse pedofilia e estelionato. Em suma, como se ser conservador fosse um insulto por si só: e é — no preconceito mais insuspeito, e não menos violento, dos últimos 30 anos que, em poucos dias, contudo, se não acabado entrará em declínio.
Gabriel Leal

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