Recomendação de livro: "O julgamento das nações"









Há tempos queria postar aqui no Blog o andamento de algumas leituras que faço; resenhas, conexões, insights e tiradas, clarões, fogos de artíficio etc. A princípio desisti da ideia pois tratam-se de leituras que seguem o fio das minhas “questões existenciais” por assim dizer, e com isso, a quem vê de fora, prestaria-se mais a confusão e ao nonsense do que serviria de roteiro coerente e imitável. Entretanto, tais leituras podem dar pistas para outras problemáticas ou servir de isca para o desenvolvimento que cada um, em algum momento da vida, esteja atravessando. E mais, pode servir pura e simplesmente de informativo útil, independente se quem o lê, tenha ou não uma “vida de leitura ativa” — com toda a controvérsia que essa locução possa desdobrar. Por isso, aqui começamos uma espécie de “estado de leitura”.

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Christopher Dawson é um historiador britânico (galês) do séc. XX, que escreve a partir de uma perspectiva teocentrada, com escopo no conjunto de desdobramentos que a tradição judaico-cristã — após o estilhaçamento social da Cristandade — implica na geopolítica dos povos. Em “Julgamento das Nações” temos em suma um juízo histórico da modernidade, de amplo alcance, da longa marcha de declínio espiritual do homem que culminou na 2 Guerra Mundial; o livro fora escrito nesse período de "trevas" e levou 04 anos para ganhar termo. 

Trata-se de um ponto de vista historiográfico no mínimo original pois estamos acostumados com livros de história que conjugam causas econômicas e socias como propulsores das guerras, como propulsores da própria ordem social, aliás. Um comparativo possível seria analisar o que Dawson faz com aquilo que o historiador Fernand Braudel faz no registro da "mentalidade dos povos" em longa duração, com ferramental sociológico. Dawson, diferentemente, trabalharia com categorias teológicas e filosóficas no registro da "ordem espiritual", também em longo prazo. 


Mas o que Dawson nos traz de inovador em seu fazer histórico é apontar como o homem com suas escolhas morais, ou espirituais, pode, a longo prazo, arruinar a sociedade que vive. Mas não só. Como essas escolhas são guiadas pela cultura que está de antemão presente na literatura e nas artes; como esses sonares do espírito mostram, por vezes insuspeitamente, o norte apocalíptico das nações; como homens como Nietzsche ou Dostoievski têm mais a dizer (ou prever) que a dinâmica da moeda e das relações comerciais. O caráter econômico de fundo das convulsões sociais tem, assim, no descentramento ético anterior, ou melhor, no desligamento transcendental do homem com Deus (e consequentemente da cultura que é mero prolongar do culto) sua explicação mais precisa. 

O que Dawson irá fazer em “Julgamento das Nações” é mostrar como a dissociação entre religião e cultura é o passo consequente da ruptura pessoal entre fé e vida; quebra subjetiva logo quebra social. O homem, nesses termos, só gerará uma cultura sã se tiver uma vida sã, espiritualmente. Uma Nação como a Alemanha, e seu Líder, terá no adoecimento subjetivo o passo em falso, e decisivo, e anterior, para decisões globalizantes monstruosas posteriormente.  

Qualquer busca econômica que não esteja ligada (religare: religião) à seiva espiritual que fornece conteúdos finalísticos às ações, são vazias e conduzem sempre ao enfado, ao tédio, à manipulação do semelhante como meio de entretenimento e destruição. A ordem moral não se sustenta na Norma, mas na Tradição e na Graça. Valores só existem caso haja conexão com a Fonte de quem alega possui-los.   

Dawson irá engenhosamente nos mostrar como o substitutivo das ideologias — sobretudo a ideologia pessoal fincada no sucesso pessoal — é o correlato que opera no oco do vazio espiritual. E foi nesse oco que Hitler obturou quando restituiu no coração dos alemães o sentimento de grandeza, de poder realizador — próprio somente à vida espiritual plena; dinheiro e sucesso nunca serão suficientes...

Uma sociedade em guerra será sempre aquela que fez a opção pelo eu em prejuízo da caridade; grau máximo da ideia funesta de Autonomia individual. Dawson também falará do papel de “doador de sentido” que a Igreja, e os homens de verdade, devem ter em momentos de crise, onde os sentidos se perdem.  “Salvar o mundo do suicídio”, é o papel dessa Instituição.  

O livro está qualhado de erudição, num diálogo com a tradição cristã e com a Bíblia, Dawson vai costurando uma linha de argumentação poderosa que promove muito mais coerência que todas as abordagens de matriz capital-econômica. Traça os parâmetros de uma restauração da ordem cristã, título de um dos capítulos, não sem antes apontar os motivos de desintegração dessa civilização, título da primeira grande seção do livro. Vale cada linha. 



AUTOR:
 
Dawson, Christopher

TRADUÇÃO:
 
Brito, Márcia Xavier de
Editora:
 
É Realizações

Gênero:
 
Ciências Humanas e Sociais

Subgênero:
 
Crítica Cultural

Formato:
 
16 x 23 cm

Número de Páginas:
 
272

Acabamento:
 
Brochura

ISBN:
 
978-85-8033-332-9  

Ano:
 
2018

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