Confissões em cartão
Eu
tremia como virgem ao ser beijada — confesso — e ainda tremo com você, com febre
de desejo, disfarçando como posso aquela moleza que me permite — às vezes
morrendo de ódio — deixar que você faça o que quiser comigo, e que de todas as formas,
temos feito desde que nos conhecemos naquele réveillon. Logo em nosso
primeiro encontro — como esquecer, né... — naquela fatídica batida na miguel
sutil.
E
não era simplesmente o porte da sua farda, primeiro, e o vigor da sua
intensidade, depois, que tinham o dom de espocar líquido de todos os poros do
meu corpo como homem nenhum tinha feito antes — “nunca será”, que fala?. Mas,
era aquela segurança quase inconsciente que uma mulher sente — e sem a qual
nenhuma pode ser feliz realmente — a não ser que seja com caras como você, sem
qualquer explicação. E eu te achei ali, fardado, exatamente quando bateram no
meu carro naquele que seria o dia do fim do mundo, a virada do milênio com
todos na expectativa do bug.
Correndo
o insano com aquela pistola na mão noite adentro depois de duas ou três
mensagens trocadas ao tempo do SMS, agora, quando você me chama pelo WhatsApp,
duas, três da madrugada enquanto “caça” — que é como você diz —, eu meio-que
explodo de vida, passado todos esses anos. Às vezes era apenas a sua voz que eu
ouvia em meio a ruídos que eu desconhecia a origem, e com isso eu já perdia o
sono, transpirando leve de ansiedade pelo café da manhã que teríamos juntos
quando você chegasse em casa, exausto porém sedento, como deuses que voltam
vitoriosos das epopeias querendo gratificação de suas musas.
E
já na cama, bem longe de qualquer contenda, você dosava a gíria tão habitual na
sua boca com palavras cujo efeito no fio da minha dorsal me envolviam na
proteção necessária para uma entrega total, e desprevenida das arestas do medo,
eu mergulhava num sentimento empenhado em servir você, horas, dias inteiros —
lembra?.
Você
me ensinou a atirar — e me pede pra que ninguém saiba disso, desculpa. A reagir
a uma agressão com algumas técnicas de imobilização aprendidas de maneira pouco
ortodoxa, você sabe... Você até fez amor comigo no meu escritório, putz..., sem
que eu cogitasse dizer não. E isso foi o gatilho para que eu te levasse aos
meus pais, e de lá, pro altar, salvando assim meu juízo.
—
Meu bem, eu aprendi a amar e odiar suas neuras aparentemente sem sentido: como
andar sempre armado; como não se sentar de costas pra rua; como estacionar
sempre de ré; como nunca, nunca deixar o celular com pouca bateria ou o carro
na reserva; a acender o farol alto antes de acionar o portão vigiando as
extremidades; ler fisionomias; julgar saídas de ambientes; rostos
desconhecidos, e muitas outras manias profissionais. Esses dezesseis anos me
ensinaram bem mais que o ponto secreto do orgasmo nunca negligenciado por seu
prazer, mas o amor sincero que homens fortes têm o poder de oferecer a mulheres
de verdade. Feliz aniversário.
Da
sempre sua, Lia.
Gabriel Leal
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